Em agosto de 2023, o Brasil foi abalado por um evento que trouxe à tona questões urgentes sobre sua infraestrutura energética: o apagão que afetou todas as unidades da federação, com exceção do estado de Roraima.

O incidente, que pegou a todos de surpresa, levanta importantes reflexões sobre a segurança energética do país, a diversificação das fontes de energia e a necessidade de investimentos contínuos em infraestrutura

Neste artigo, exploraremos as causas desse apagão, suas implicações e possíveis soluções que devem ser adotadas a fim de evitar transtornos como esse.

 

O que ocorreu 

Às 8h31 do dia 15 de agosto de 2023, uma falha no Sistema Interligado Nacional (SIN) ocorreu, cessando 27% do consumo de energia do Brasil. Ou seja, cerca de 16 mil MW de energia foram interrompidos.  

Apenas o estado de Roraima não experenciou o incidente, visto que é a única região do país não ligada ao SIN.  

De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a região Norte foi a mais abalada pelo acontecimento, sofrendo uma redução de 83,8% da carga de energia de seu subsistema. 

Já no Nordeste, essa redução foi de 44,4%. O Sudeste e o Centro-Oeste sofreram uma perda de cerca de 19%. Por fim, a região Sul apresentou uma redução de carga de 15,5%.  

A energia foi completamente reestabelecida às 14h49 do mesmo dia.  

 

Causas do apagão 

Para entender o que causou o apagão, é necessário compreender, inicialmente, o que é o Sistema Interligado Nacional.  O SIN refere-se ao sistema elétrico de grande escala que integra a geração, transmissão e distribuição de energia elétrica entre as regiões do país, com exceção de algumas localidades, como o estado de Roraima.  

Composto por diversas usinas, como termelétricas, hidrelétricas, eólicas e solares, o SIN é responsável por assegurar o fornecimento de energia nas mais diferentes localidades brasileiras.  

A interligação do sistema elétrico em escala nacional traz benefícios, como o compartilhamento de recursos, a redução de custos operacionais, a flexibilidade na alocação de energia e a capacidade de lidar de maneira mais eficaz com demandas variáveis.  

No entanto, um sistema interligado de maneira tão ampla também está mais suscetível aos eventos externos, como interrupções devido a falhas em determinadas usinas, problemas de transmissão ou eventos climáticos extremos.  

No caso do blackout ocorrido, a maior suspeita é que uma sobrecarga de energia ocorrida no interior do Ceará tenha gerado um abalo em todo o sistema, afetando outros estados do Nordeste e Norte.  

Diante do ocorrido, a equipe do Operador Nacional do Sistema Elétrico optou por minimizar as cargas distribuídas para o Sudeste, Centro-Oeste e Sul, a fim de evitar uma interrupção total de energia nessas regiões, esquivando-se, assim, de um problema ainda maior.  

Entretanto, há a possibilidade de o apagão ter sido ocasionado por uma somatória de outros motivos, inclusive por ação humana, o que está sendo investigado pela Polícia Federal.  

 

Consequências do apagão 

Como vimos, mesmo um pequeno imprevisto no funcionamento do Sistema Interligado Nacional ocasiona consequências em todo o Brasil. No que tange o apagão ocorrido em agosto, inúmeros setores foram afetados, ocasionando problemas, como: 

  • Comércios sofreram prejuízos por que foram impedidos de funcionar normalmente;

  • Hospitais tiveram de adiar suas consultas e exames por não possuírem geradores de energia, como foi o caso do Hospital do Câncer, em São Luiz - Maranhão;

  • O funcionamento dos metrôs teve de ser suspenso nas capitais São Paulo, Salvador e Belo Horizonte; 

  • Semáforos pararam de funcionar, o que, principalmente em grandes cidades, ocasionou uma desorganização no trânsito;

  • O fornecimento de água foi interrompido em algumas cidades.

 

Apagões: um problema histórico 

 

 

Infelizmente, no Brasil, episódios de apagões não são novidade e, por diversas outras vezes, milhares de brasileiros já tiveram suas vidas cotidianas impactadas pela falta de energia. Confira alguns desses casos, a seguir: 

2001 

Uma das maiores crises energéticas brasileiras se iniciou em julho de 2001, sendo encerrada em fevereiro de 2002. 

seca enfrentada durante esse período impactou drasticamente os níveis dos reservatórios das hidrelétricas. Além disso, o país vivenciava uma época em que os investimentos destinados à produção e distribuição de energia elétrica haviam cessado

Devido à gravidade da situação, algumas medidas foram decretadas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso com o objetivo de reduzir o consumo de eletricidade. Entre elas, foi determinado um racionamento para consumidores, comércios e indústrias em 16 estados, o que acarretou graves consequências, como: 

  • Diminuição da produção industrial; 

  • Queda drástica das atividades produtivas; 

  • Aumento dos preços dos bens de consumo; 

  • Perda de competitividade econômica; 

  • Aumento do desemprego. 

2009 

Uma grave tempestade causou uma falha na principal usina de energia do Brasil, o que levou a uma interrupção no fornecimento de 28 mil MW em todo o país. 

Por esse motivo, cerca de 70 milhões de pessoas foram prejudicadas. 18 estados ficaram totalmente no escuro, enquanto outras 14 unidades federativas sofreram o blackout parcialmente.  

Em alguns locais, a energia demorou um pouco mais de seis horar para retornar.  

2011 

Nesse ano, uma falha na subestação de Jatobá, município localizado na divisa entre Bahia e Pernambuco, deixou 90% da região Nordeste sem eletricidade, afetando, assim, cerca de 47 milhões de brasileiros.  

2012 

Em dezembro de 2012, a hidrelétrica de Jatobá, localizada em Goiás, apresentou outra falha, cuja consequência foi um apagão em 6 diferentes estados brasileiros.  

Ainda no mesmo mês, outro problema identificado na Usina Hidrelétrica de Itaipu afetou os estados do Sudeste, Centro-Oeste e Norte, deixando-os parcialmente no escuro.  

2018 

Em 2018, mais um apagão ocasionado por uma falha em uma hidrelétrica, nesse caso, na Usina de Belo Monte, atingiu o Norte e Nordeste do país, deixando cerca de 70 milhões de brasileiros sem energia.  

2020 

Em novembro de 2020, 13 municípios do estado do Amapá enfrentaram, por cerca de 22 dias, a interrupção do fornecimento de energia

Devido a um incêndio que acometeu os transformadores de uma subestação amapaense, 90% da população da região ficou sem acesso à eletricidade

 

Como evitar os apagões 

 

 

Diante do histórico de apagões no Brasil, fica clara a necessidade crítica de investimentos contínuos em infraestrutura energética.  

Todos os episódios citados acima, incluindo o mais recente blackout, ressalta a urgência de modernização e manutenção das instalações existentes, bem como a implantação de tecnologias inteligentes de monitoramento e respostas ágeis para mitigar os impactos de falhas inesperadas. 

Além disso, é possível perceber que o sistema energético do Brasil, historicamente centrado nas hidrelétricas, revela sua vulnerabilidade diante de eventos imprevistos, como é o caso de períodos de secas prolongadas.  

Para reduzir essa dependência e garantir um suprimento confiável de energia, é crucial diversificar a matriz energética, abrindo espaço para fontes renováveis, como a energia solar.

No entanto, é essencial que o Brasil esteja preparado para a integração de uma ampla variedade de fontes energéticas. Painéis solares, turbinas eólicas e outras tecnologias requerem um sistema de transmissão robusto e flexível, que possa acomodá-las e distribuir a energia de maneira eficiente para os centros de consumo. 

Dessa forma, a conclusão é clara: o investimento em infraestrutura é o alicerce para uma transição de sucesso para um sistema de energia mais sustentável e diversificado.  

Os desafios impostos pelos apagões e pelas mudanças climáticas destacam a urgência de modernizar a rede elétrica nacional

Somente com um compromisso contínuo com a melhoria da infraestrutura energética, o Brasil poderá enfrentar com confiança os desafios do século XXI, garantindo energia confiável e sustentável.